O
problema
Estava
por acaso hoje fuçando à toa na internet quando me deparei com um artigo
veiculado no site da revista época sobre cantadas e assédio e a posição das
mulheres sobre isso.
Sempre
achei interessante, sobre tudo na minha vida, fazer mais do que dizer minha
opinião. Sempre gostei mais mesmo é de tentar pensar sobre o fato, incluindo
uma tentativa de chegar à origem do mesmo. Digo tentativa porque é, obviamente,
muito difícil chegar ao início de algo tão complexo baseado apenas na
especulação. Mas, de qualquer forma, vamos em frente.
A
campanha “Chega de Fiu-Fiu” mostra impressionantes números sobre as mulheres
que já receberam cantadas consideradas ofensivas ou que já foram até assediadas
de alguma forma no seu cotidiano. Uma grande e interessante questão levantada
com a pesquisa é o porquê da existência de tantos homens que se acham no
direito de fazer atrocidades com mulheres e achar isso certo.
As
roupas
Acho
que a justificativa mais dada é que o respeito está relacionado com a
quantidade ou tamanho das roupas que a mulher veste. Isso no meu ver faz tanto
sentido quanto só respeitar o seu pai quando ele não está usando aquele pijama
feio e velho que ele insiste em manter no armário. Tanto sentido quanto cruzar
a rua quando você vê alguém vestido todo de preto (leia-se fã de rock, mais
provavelmente fã de metal). Tanto sentido quanto achar que alguém vestido todo
de preto é fã de rock ou, mais provavelmente, de metal.
Todos
nós sabemos no fundo que a roupa não diz sobre o ser humano, mesmo que não
demonstremos isso. Terno e gravata é a roupa do político ladrão e ao mesmo
tempo a roupa daquele pai que foi respeitoso, dedicado e honesto toda a sua vida
e está na igreja, diante do altar, no casamento da sua filha. Em que isso se difere
da comparação entre a mulher com o shortinho curto e a mulher com uma roupa que
cobre todo o corpo?
A
meu ver, nada. Acho que o respeito que
falta nos homens vem de um conjunto de fatores.
1.A
família
Perdi
a conta de quantas vezes eu já vi pais incentivarem seus filhos que namoram a não
ter fidelidade, dizendo que eles têm que “aproveitar a vida” e que esse
atributo deve existir no casamento e não antes disso. Não vejo muito a
diferença entre isso e tratar a mulher como um objeto. Incentivar a
infidelidade, para mim, é uma forma de incentivar o homem a não tratar a mulher
com o devido respeito que ela merece como ser humano que é. Sempre lutei contra
isso e sempre lutarei porque acho que namoro, mesmo quando jovem, é uma relação
que prepara o ser humano para relações futuras. Pergunte ao casal que está
casado há mais de 50 anos (se você achar algum) se os pais deles os
incentivavam a “aproveitar a vida” da forma que foi dita. Creio que não.
Incentivar
a não ter compromisso sério (ou seja, não namorar sério) durante a juventude é
algo bem diferente. Apesar disso também
contribui para que o jovem pule de parceiro(a) em parceiro(a) com a chance de
fazer isso sem se preocupar em tratar a pessoa com respeito.
A
meu ver, podem formar-se ai homens que tratam a mulher como objeto de prazer.
2.Separando
Relacionado
à família, mas também à sociedade como um todo, está a forma como homens e
mulheres são separados. Quantas vezes eu e você, leitor, já vimos meninas ganhando
bonecas (para que elas cuidem como filhos) ou presentes relacionados a cuidados
com a casa, como miniaturas de cozinha, por exemplo? Enquanto isso meninos,
frequentemente, ganham kits de construção, carrinhos, bonecos de luta, entre
outros. Isso, pra mim, já ajuda a incutir na cabeça dos pequenos uma separação
que chega ser até de superioridade, como se as mulheres devessem cuidar de casa
e das crianças enquanto os homens fazem o serviço bruto e isso fizesse dos
homens superiores.
Sou
do tipo que enxerga que cada grande questão começa com um pequeno passo. Vejo
que esse é um pequeno passo na caminhada para a cultura do homem sendo visto
como superior e dominante.
Ainda
se ouve coisas do tipo: “engenharia não é profissão de mulher!”. Essa e outras
coisas semelhantes vêm pra mim da mesma separação dos brinquedos ali de cima e
também da separação de “rosa = meninas” e “azul = meninos” e por ai vai.
É
inevitável pensarmos que tudo que temos de bom ou ruim tem um mínimo de origem
na família.
3.O
que vêm da mídia
Finalmente
chegamos às nossas fontes de informação e entretenimento. Pare para notar o
quanto de sexo e violência há nos filmes, desenhos animados, programas de
televisão, livros e música na atualidade. Infelizmente já virou clichê falar
uma coisa tão séria como: “o sexo e a violência hoje estão banalizados”. Quão
sério é isso? Estamos em contato tão grande com cenas desse tipo que já achamos
normal. Imagino que sem um controle maior dos pais, essa banalização pode levar
a futuros adultos que não valorizam a intimidade e a sexualidade próprias e do
próximo e que achem até que as cantadas ofensivas e o assédio são algo comum.
Concluindo
Junte
todos os fatores acima e pense sobre o produto dessa junção. O relato da
pesquisa feita mostra a realidade da união desses e de outros fatores que eu
possa não ter citado. O que está dito no texto acima visa buscar explicações
para a origem desse comportamento bárbaro dos homens e não de justificá-lo como
certo ou aceitável.
Infelizmente
ainda há homens que tratam mulheres como lixo. E também há mulheres que se
tratam como lixo, como a personagem principal de Cinquenta Tons de Cinza (pelo
menos no primeiro volume da série), que infelizmente tem inspirado tanta gente
por ai. Curiosidade: a autora dessa obra é uma mulher.
Creio
que haja homens de respeito ao redor desse mundo (mesmo que sejam poucos) e que
sê-lo é QUESTÃO
DE QUERER. Eu, pessoalmente, sou um dos que querem e tentam todos os
dias, sempre se questionando sobre o que pensam, o que falam e o que fazem. Não quero e não acho que seja preciso falar
sobre quão essenciais são as mulheres para todo e qualquer homem em todos os
momentos da sua vida.
Tenho
certeza que ignorantes são os que não percebem como a mulher e o
homem são igualmente capazes, igualmente de valor e que, como seres humanos,
querem e merecem respeito. Aliás, não importa o sexo, a cor, o credo, a origem ou
a condição social todos querem e merecem ser respeitados. Eu sei que essa frase
foi clichê, mas é como digo: se fosse assim tão pobre e obvia não precisaria
ser dita.